O difícil segredo

Nossa época é tensa. O homem atual vive constantemente acossado pela competição, pelas solicitações de consumo, pelo estresse. Escasseia, cada vez mais, a alegria serena, o bom humor, o sorriso franco, contagiante. Poucos os que conservam a capacidade de vibrar com as pequeninas surpresas, de saborear as insignificâncias diárias que tanto colorem de alvorecer a aridez selvagem da existência.

Surpreso com a felicidade e o bom humor de um camponês, cuja vida fora um calvário de tribulações, tristezas, decepções e sofrimento, o jornalista indaga:

- Como é que consegue você manter esse otimismo, essa alegria? Que é o seu segredo?
- É muito simples – responde prontamente o homem. Não há mistério. Aprendi a cooperar com o inevitável!

Muito simples? Simples, talvez. Mas tremendamente difícil. O difícil segredo! Entretanto tão compensador, tão gratificante, que merece ser tentado, mesmo com algum sacrifício.
Não é apatia, inércia, alienação. É uma atitude positiva, muito ativa e até criativa. Vai além da aceitação conformista, pura e simples, do inevitável: supõe cooperação com o inevitável. Acolhê-lo sem azedumes, sem vitimalismos, e fazê-lo render. Como? É impossível! Nem tanto.

Considero inevitáveis aquelas coisas, fatos, contratempos, limitações e imprevistos que, apesar do nosso empenho, da nossa boa vontade, não conseguimos contornar. ”Não o pude evitar!” - exclamamos tantas vezes. Nada de determinismo, de fatalismo.

Exemplifiquemos para melhor compreensão: o tempo é inevitável, tanto o da meteorologia como o da vida. Quantos a maldizer a chuva, o frio, o vento, a não aceitar os anos que carregam. Inevitável você não fazer sempre o melhor negócio; encontrar a sinaleira vermelha; esquecer o talão de cheques, perder o ônibus, não encontrar mais leite ou pão, ser surpreendido pela chuva, respingar a roupa etc.

Inevitável experimentar as limitações do seu próprio ser, da sua compleição, do seu temperamento. Desde que você entrou na vida, não pode fugir das suas leis. São inevitáveis. Se as burlar, arcará com as consequências. Não é preferível colaborar com elas? Por que esperar e exigir da vida o que a vida não vai dar? Você não constitui uma exceção. Não reclame privilégios! Uma das leis fundamentais da natureza humana é o trabalho. Se você quiser levar uma existência digna, terá que trabalhar. É inevitável. Por que não enfrentar o trabalho com alegria, ao invés de amaldiçoá-lo? “Quando trabalhais, sois uma flauta através da qual o murmúrio das horas se transforma em melodia.” (K. Gibran).

Há também o inevitável que nós criamos, sem querer, as mais das vezes. Que é fruto, consequência das nossas ações, dos nossos atos. Não se exaspere. Não permita que o azedume se instale em seu coração! Explore o seu bom senso. Seja criativo, original. Evite a monotonia, a mesmice de todas as horas. Em suma: colabore com o inevitável!