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domingo, 11 de julho de 2010
estação da cultura
Da calçada, observo encantada, o prédio imponente.Tem cores novas retocando seus traços antigos, como quem maquia, como quem tenta esconder as rugas deixadas pelo tempo. Subo os degraus de pedra fria e antiga e abre-se uma imensa porta. Entro nesse mundo, deixando para trás o meu presente. Ele já é agora, algo passado e a cada passo, embarco no futuro, que é a minha busca pelas raízes. Entro no futuro, nas raízes, nas verdades; verdades que me serão apontadas sem mitificação - nuas e cruas - tal como devem ser todas as verdades. Sem eufemismos, sem paliativos: dolorida.
As pedras que me rodeiam são frias, a cadeira onde sento está fria; o ambiente cheira à mofo, portanto, à história. À nossa história. À história do povo gaúcho, seus medos, seus sonhos, suas lutas, suas glórias e derrotas. É inebriante a forma como o conhecimento vai entrando pelos poros, tomando a forma do meu corpo, moldando-se, fazendo com que suas células se misturem às minhas: marcando, ferindo, acarinhando, estimulando.
Os livros que folhamos têm em suas páginas o amarelo do esquecimento, afinal, é mais fácil ler doces mentiras do que amargas verdades. Vejo-me obrigada a depor alguns dos meus heróis e vê-los como eram: mercenários. As palavras que ouço estão carregadas de emoção, a voz que me fala tem impregnada a busca pela verdade - ' a verdade'! Não a que usam para iludir, mas a que é usada para iluminar.
Como um povo que não conhece seu passado, pode encontrar o seu futuro? Como caminharmos olhando para o céu, se não temos um solo firme onde pisar? Linhas interligadas: passado, presente, futuro. E o que existe realmente? Apenas o passado, pois o meu presente agora já é passado, e o futuro, um presente que já é passado também.
Uma árvore para crescer, florescer, dar frutos, precisa das suas raízes. Não podemos construir em cima do desconhecido. Sobre ele podemos apenas deduzir...
Imagem* Estação da Cultura de Montenegro - RS
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A Estação da Cultura (antiga Estação Férrea) é hoje um prédio usado para tudo que se refere à cultura:exposições, lançamentos de lvros, cursos.
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Tive a oportunidade de fazer um curso sobre a História Gaúcha, ministrado pelos historiadores João Timóteo Esmérioe João Batista Rodrigues. Há uma grande diferença entre se aprender com um professor de História - que nos mostram a história amenizada e enfeitada, e um historiador - que mostra a verdade.
Um professor de história, segundo Esmério, rs, tem compromisso com o plantar orgulho dentro de um povo, enquanto que o historiador, tem o compromisso com a desmitificação, para que somente a verdade seja mostrada.
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Esta restauração, que criou enorme polêmica na cidade, acabou sendo custeada por várias empresas locais, cujo investimento foi dedutível do IR.
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Exemplo a ser seguido.
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Meu carinho a todos que por aqui passarem!
Hum, parabéns pela sensatez, algo raro quando alguém comenta a história do próprio povo.
ResponderExcluirApesar disso, eu divirjo um pouco de vc, mas sei que estou meio que sozinho nesta forma de pensar.
Não acho que a história deve ser alavanca para o futuro, também porque ela nunca é verdadeira, nem quando é mostrada por historiadores, pois ela é muito mais complexa que o registro dela tem capacidade de realizar, mas principalmente porque ela, ao unir sentimentos comuns, separa, demarca, relações com os que não compartilharam deles, criando uma hostilidade latente, desnecessária e inconveniente. É daí que nasce o xenofobismo de todas as sortes, algo que repilo.
Resumindo, meu mundo é sem fronteiras de todas as ordens, geográficas, históricas, humanistas, ideológicas, religiosas, etc.
Beijos...
Bom dia, Vince
ResponderExcluirSou uma defensora da preservação histórica, desde, é claro, seja algo com nexo. Nada de preservar um prédio, caindo aos pedaços, só porque em determinado tempo, algum famoso deu um arroto ali dentro rss
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Mas gosto do preservar das raízes, dos feitos, porque o que temos foi criado a partir de algo/alguém.
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Isso começa com coisas sobre a minha família. Saber das histórias (mesmo sabendo que o que ouço nem sempre sao os fatos reais, mas as interpretaçoes feitas deles). Gosto das fotos e até mesmo visito os túmulos.
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Quanto à sensatez, temos q ter os pés no chão, não? Achar, por exemplo, que os farrapos eram ícones da moral e bons costumes, já é se enganar muito.
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Mas uma coisa importante, eles agiam de acordo com os costumes da época, não podemos julgá-los por isso.
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É fácil e insensato torcer o nariz diante dos erros e vícios de épocas remotas, porque o certo de hoje não era o certo deste tempo.
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Beijo e um ótimo dia!
(preciso de um curativo pra queimaduras) risos
ResponderExcluir,
mas quando menina, eu era ótima em segurar, porque era a menor de três irmãos...rsss
irmãs*
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