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quarta-feira, 14 de julho de 2010

quebrando o ultimato...


















Caro amigo,

Como podes notar, não sou boa em ultimatos. Talvez porque não os aprecie, também não os saiba dar, e quando os dou, sou a primeira a rompê-los. Nem peço que me entendas, embora sinta, mais do que nunca, que me entendes. Por que tenha essa sensação? Não sei...

Meu mundo está tão pequeno, e não sei se é ele que está a encolher ou eu a crescer. Em alguns momentos, sinto-me tão grande, tão forte, tão poderosa, mas, lá pelas tantas, encolho, encolho, e torno-me tão pequena, a tal ponto de me sentir insignificante. E isso, para quem quer ser muito, é o maior dos castigos. Um castigo que atenta a minha vaidade.

Não estou estranha; sou estranha. Uma estranha no meu próprio mundo. Um mundo feito de lindos tons cinza que se sobrepoem. É o cansaço. Sim, só pode! É tudo culpa dele! Deste maldito cansaço que me invade, que corre em minhas veias, iludindo-me, fazendo-me crer que é sangue. Estranha e perdida. Estou me julgando, não? Justo eu que ainda não estou pronta para julgamentos.

Uma cadeira, uma janela, alguns fantasmas, e os restos. Restos do que já foi paixão, do que já foi vida! Estou permitindo que a vida me transforme em restos, em sobras, em segunda, terceira ou quem sabe quarta opção. Mais uma vez minha vaidade é ferida e me fere, porque mostra a minha face: a face do fracasso.

Estou tentando ficar lúcida, ser lúcida, mas tudo se mistura dentro de mim, de uma forma tão...tão insana! É tão estreita a porta que se abre para um novo mundo, que nem me arrisco a tentar passar por ela. Enquanto isso, sento, escrevo, rasgo o papel, rabisco as paredes, descascando-as, sendo descascada. Sento, escrevo. Escrevo. Que mais sei fazer, se nem ao menos isso sei fazer?

Por que nasci afinal? Acho que sou fruto das travessuras de algum capetinha entediado. Olho pra fora - sim, eu olho. Sentada, enquanto escrevo, eu olho. Há um mundo lá, eu sei, mas nem é convidativo. Não há nada lá, à minha espera. Ninguém me espera. There for me? Não...

Meus pensamentos foram quebrados, e tenho juntá-los de uma maneira coerente. Não há coerência. O tempo passa e não sei mais lutar. Nem fugir do campo da batalha eu consigo. Então fico nele, deixando que me firam, sem reagir. Feito barata morta, quieta, com o seu lado resistente todo quebrado, mostrando o branco, a pasta, o avesso, o intocável. É madrugada, vou dormir, aqui, sentada, pois logo a vida virá me despertar. Ela sempre me desperta...

Mais uma vez me despeço, sem nada perguntar de ti. Digo sempre que nada pergunto, porque nada me responderás, mas não; nada pergunto porque sou uma tremenda egoísta, que só sabe lamber as próprias dores.

Abraço-te...


imagem_ jacob lopes
música_ josh groban_ there for me


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11 comentários:

  1. Ouçam a música! Notarão que há algo bom por aqui. A música é...
    .
    Um mundo com música sempre se torna mais suportável...
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    beijo com carinho aos que me leem.

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  2. Gostei do beijo. Ao vivo terá outro sabor?
    Amiga, em algum espaço de minhas verdades, sei que ninguém pode chorar tua lágrima nem rir teu riso, muito menos medir a amplitude das tuas palavras, que formam tuas frases sentidas que se levantam e se impõe sobre todas as coisas. De uma forma singular, possivelmente a vida te chame pra ela pra que projetes um recomeço e despertes pra idéia, de que se não fores ao mundo, definitivamente o mundo virá à ti.

    Beijão no coração.

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  3. Morte em Vida ou um Anjo Caído?


    A ti que o desejas,

    Vou-te segredar;

    Para que saibas e vejas,

    A amplitude do que anseias.

    Antes tenho de prevenir;

    Que quem segreda está a mentir...

    Eu sou aquele que julga o seu pensar

    Mais belo que o mar...

    Por tudo em mim existir

    À que concluir:

    O meu pensar não havia de morrer.

    Então, com um simples querer,

    Recosei o meu ser,

    Recosei morrer...

    Sou hoje um cadáver adiado.

    Putrefacto...

    Numa decomposição activa;

    Caem-me pedaços

    Aqui e acolá...

    Como se fossem farrapos.

    Vagueio, informe, em carne viva,

    Que medo isto me dá...

    Deixo pedaços de carne negra;

    Nas arestas vivas das pedras dos muros

    Onde me escondo em sussurros,

    Sussurros de lânguidos ais...

    Tropeço...

    Em cada pedaço de mim;

    Ora é um dedo que cai,

    Ora uma orelha que vai...

    Agora é o meu ventre que se abriu

    Oh!...cheiro nauseabundo que de lá sai...

    Oh!...tripas esventradas,

    Que arrasto pelas pedras das calçadas...

    Mas quem foi que me mentiu?...

    Quem me lançou nestas vidas amaldiçoadas?...

    Queria eu morrer...

    Para não mais ninguém me ver...

    Procuro a minha tumba,

    Onde possa repousar enfim;

    As carnes secas e podres que há em mim.

    Então, morto, involuntariamente suicidado,

    Todo eu quieto e esventrado...

    Na morte final;

    No fim deste mal;

    Possa encontrar sentido,

    Neste Anjo caído,

    E, possa lembrar:

    Que a morte é a vida a dar...

    Só o contei a ti;

    Segredei-te ao ouvido,

    Para que saibas que foi mentido...

    Porque o que sou;

    Até na morte canta a vida,

    E nos campos da morte esta flor foi colhida

    Esta flor que dou...

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  4. Oi, Mariinha.........
    Que lindo este teu espaço aqui...
    beijuxxxxxxxx da trix

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  5. ___lendo a carta, me identifiquei e por alguns minutos refleti, no maior dos pormenores - que contra-senso, contudo e sobretudo não há amarguras em nós e conseguimos ainda, por pior que tudo pareça, rir.
    né?
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    então sem modéstia alguma, deduzo, concluo e sentencio: a lucidez teme a nossa loucura.
    rs*.
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    um beijo.
    .

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  6. __e outra coisa.
    até cliquei para que a música tocasse enquanto eu lia, mas logo no começo interrompi, não deixei que nada me desviasse, nada me demovesse o sentido.
    a música é sim, boa, muito boa.
    mas o texto é sublime.
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    viu?
    .
    tontona!
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  7. Bom dia Joshua(?)

    Um bom dia daqueles com uma chuva que cai mansa e teimosa, das que nos dizem, sorridente: vim pra ficar!
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    Sim, ao vivo sempre tem outro sabor - seja lá o que for - porque sai do nosso mundo de imaginação, que sempre teima (olha a teimosia aqui novamente rs), em nos enganar. Aí entra um conceito que tenho sobre a vida: só vive de forma inteira aqueles que vivem o ' ao vivo', mas que se permitem, viver a ' imaginação'.
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    Não sei se a vida vem a nós? Será? Talvez eu esteja errando nisso, e talvez (mais um rs) eu esteja cansada justamente por estar correndo atrás de algo que está correndo atrás de mim...rs
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    Confundi? risos. Ah, sei lá, mas vais me entender, eu sinto que vais.
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    Obrigada pela presença e pelas letras!

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  8. Bom dia, noni...
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    Já vi muitas pessoas que caminham pela vida, sem estarem vivas realmente. Têm um corpo que se movimenta, com órgãos que funcionam corretamente, mas isso não me diz estar vivo.
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    A morte verdadeira, nao essa em vida, em nada me assusta, porque creio numa continuação. Há uma ânsia em estar viva, em me sentir viva, e então fico querendo/buscando/esperando tudo que uma vida possa oferecer.
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    É como tirar de uma fruta tudo. Não apenas a casca, ou o sumo , ou as sementes. Quero tudo!*rs
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    E é disso que surge esse meu cansaço, que em alguns momentos me derruba e em outros me faz rever conceitos, atitudes e pensamentos.
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    Cresço nele e com ele, porque só quando assim me sinto, é que ouso dobrar esquinas e escolher novos caminhos...
    .

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  9. O que deixaste escrito me fez pensar durante muitos dias, por isso, só agora respondendo
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    Obrigada

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  10. Bella, rs
    é um espaço inteiro, porque está cheio de remendos que, gostaria muito, poder dividir com vocês durante algum tempo.
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    Obrigada pela presença!
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  11. Bom dia, notinha
    meio com rir das nossas desgraças, nao? rs
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    desgraças essas, q mesmo parecendo tao grandes, tornam-se pequenas diante de tantas coisas que vemos ao nosso redor, não?
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    Acho q por isso usei o termo ' egoismo'. Mas quando estamos com o corpo todo à mostra, sem a pele q nos reveste, qq toque nos faz gritar....
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    e nessas horas, até esquecemos (eu, ao menos) de que nossas dores nem sao nada perto de outras, tao maiores.
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    beijo e obrigada sempre.
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    .
    ...

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