tênue linha

o sol derrama-se manhoso por sobre o asfalto,
as árvores espreguiçam-se ao menor contato dos seus raios,
janelas abrem-se vagarosamente permitindo a saída inevitável
do calor da noite, dos medos da noite, das angústias
com as quais a noite nos envolve,
saem de mansinho pela janela entreaberta, abrindo espaço
para a luz do dia e tudo que ela ofusca

olho para o asfalto - ele separa o lado de cá do lado de lá,
uma tênue linha cinza que separa mundos:
a verdade da mentira,
a realidade da ilusão,
a coragem do medo,
o certo do errado

enquanto aumenta o fluxo por sobre a linha tênue,
noto como é fácil atravessá-la,
impõe perigos, mas é fácil
basta esperar o momento certo e ter a atitude certa,
e uma vez do outro lado, quem poderá nos convencer
de que o outro lado nada mais é do que o lado de cá
de quem lá estiver

e assim o dia segue, com as incertezas que carregamos,
com os medos que nos assombram,
com a ausência que devora,
podando...
podando...
podando...


imagem* um lugar em Belo Horizonte
música* hight_ james blunt


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