Aleluia

Fecho os olhos. Não sei por que. Apenas faço isso quando quero ouvir melhor. ‘ Aleluia’. Há um canto que ecoa pelo ar: ‘ Aleluia’.
Será que agradecem? Comemoram? Serão devotos? Não sei. Quero apenas ouvir. ‘ Aleluia’. São tantas as vozes, tão tantos os povos. ‘Aleluia’, pelo que? Pela dor? Pela miséria? Pela indiferença? Louvem, adorem, caminhem, não questionem, aceitem. É o certo, é o aprendizado. ‘ Aleluia’, pelo que, afinal? Pelos corpos nas valas, pela desesperança, pela fome. ‘Aleluia’! Pela vida? Pelas interrogações sem respostas. Pelas respostas a não sei quais perguntas. Louvem, adorem! Sejam cordatos, bem mandados, caminhem com cabeça baixa. ‘Aleluia’. Andem em filas, aos milhares. Condicionados, obedientes, sem perspectivas. Saiam de uma fila apenas para entrar em outra, outra, muitas outras. ‘Aleluia’. Tudo é justo! Tudo está certo! Caminhem. Vegetem. ‘Aleluia’. Bois para o mesmo matadouro, servindo de alimento. Fracos alimentem os fortes! E não os incomodem com suas lamúrias. Oprimidos alimentem os que os oprimem. ‘Aleluia’. Que se faça a luz! Que se conheça o verbo. Qual será o verbo maior? Amar ou obedecer? Quem sabe ceder? Mas jamais o verbo importar! ‘Aleluia’! Ainda ouço a música. Ela tem sonoridade ímpar. Voz que conheceu o dom. O dom de? ‘Aleluia’!


imagem_ aleluia_ ana maria cortesão
música_hallelujah_ leonard cohen